Viúva Negra: Um olhar real sobre o filme
06/08/2021.
Por Milena Araújo.
Olá, galerinha que ama um filminho? Como estão?
Hoje, iremos olhar mais profundamente para o filme Viúva Negra, uma das obras cinematográficas mais recentes da Marvel.
Viúva Negra (Black Widow), da diretora Cate Shortland, lançado em 2021, é estrelado pela incrível atriz Scarlett Johansson, e conta a história de Natasha Romanoff no período da adolescência. O filme busca apresentar ao público como Natasha se tornou a Viúva Negra, mas não a partir do seu treinamento secreto, e sim, dos seus traumas e sentimentos que a moldaram para se tornar uma Vingadora! É através desse fio que iremos mergulhar no subtexto do filme da Marvel...
Bom, que os Vingadores chamam a atenção da galera e que a Viúva Negra é um personagem peculiar todos já sabem, mesmo aqueles que não são muito próximos aos filmes de super heróis! No entanto, Viúva Negra coloca em pauta muito mais do que cenas de ação e diálogos emotivos, a obra escancara as vulnerabilidades e as fortalezas femininas. Além disso, apesar do clichê da Guerra Fria, EUA x União Soviética, em que os primeiros são os salvadores do mundo enquanto os últimos são os vilões, o roteiro rompe com o passado ao trazer a vida de Natasha totalmente ligada aos problemas do presente: os abusos contra mulheres, abandono familiar e pobreza global.
1 - Protagonismo feminino
Natasha Romanoff ganha força no papel de Viúva Negra ao se destacar como uma mulher extremamente forte e habilidosa. Suas técnicas de luta são quase imbatíveis, mesmo quando se viu em confronto com outros personagens de igual ou maior porte físico. É colocada como peça-chave da trama para salvar o mundo e outras mulheres que estavam submetidas ao mesmo treinamento que viveu e a fez se tornar uma assassina. Num grande mistério, seu treinamento secreto, pela chamada “Sala Vermelha”, não foi o ponto forte da história, deixando oculto o que acontecia no treinamento. Ao mesmo tempo, o filme deixa claro que se tratava de algo grandioso e cruel, ao retirar órgãos reprodutores das mulheres de forma involuntária e as deixando sem escolhas pessoais para suas vidas, sendo obrigadas a se tornar parte do exército de viúvas de Dreykov.
Assim como Natasha, sua irmã Yelena também surge como uma mulher forte e quase invencível, porém com aspectos emotivos mais aflorados, não a tornando menos forte fisicamente e habilidosamente. Yelena tem sede de vingança contra Dreykov, e busca a todo custo acabar com ele e com sua criação, a Sala Vermelha. Ao se juntarem no mesmo propósito, destruir o treinamento secreto e tudo o que ele representa, ambas vão em busca de Alexei e Melina, que fizeram o papel de pais durante a missão em Ohio. Melina, também recrutada por Dreykov, teve uma direção diferente das meninas, ao passo que Natasha e Yelena conseguem fugir da Sala Vermelha e da influência de Dreykov, Melina seguiu sendo seu braço direito e o ajudou a construir o exército de viúvas influenciadas quimicamente.
A diferença entre as personagens se torna nítida ao longo do processo, enquanto Natasha lida com seus confrontos familiares e pessoais de maneira mais introspectiva e assume o papel de heroína, Yelena deixa explícito os seus sentimentos e emoções e se enxerga como uma assassina treinada que visa acabar com tudo o que destruiu sua vida. Quanto à Melina, no papel de uma grande cientista, é vista como uma das mulheres mais importantes para a construção do exército de viúvas, se juntando à missão de Natasha e Yelena após se dar conta de que não teve escolhas para fazer o oposto e combater Dreykov. Os papéis masculinos são colocados em segundo plano, à medida que Alexei faz atuações que podem ser vistas como cômicas, e que Dreykov só aparece ao final quando está em confronto com Natasha.
Assim, Viúva Negra mostra como mulheres podem ser diferentes e ainda assim serem extremamente fortes. Todas demonstram suas vulnerabilidades e traumas, do mesmo modo que, seja para o bem ou para o mal, também demonstram sua inteligência, habilidade e força. Em um mundo em que a mulher ganha cada vez mais voz e papéis de relevância em todos os setores da sociedade, o filme Viúva Negra surge para apresentar esse mundo feminino tão diverso nas telas do cinema hollywoodiano.
2 - O controle sobre a mulher
De forma sutil, o filme aponta para alguns tipos de controles e violências contra a mulher. Tudo começa a partir do momento em que meninas são sequestradas ou compradas para fazer parte do treinamento secreto, sem que haja qualquer escolha para uma vida familiar normal e vivência em sociedade. Não bastasse isso, nem todas sobrevivem ao processo, assim, 1 a cada 20 meninas consegue se tornar viúva, chamando a atenção para o descarte humano infantil. Também, sem que houvesse qualquer cena explícita, em tom levemente engraçado, Natasha e Yelena contam os motivos de não poderem ter filhos. Para seguir com o objetivo de ter mulheres “sem nada a perder” ou com qualquer obstáculo que pudessem tirá-las da influência e dos objetivos de Dreykov, o treinamento retira todos os órgãos reprodutores das mulheres que se tornam viúvas. Trata-se de um modo de controle e violência de alto grau, que retira toda a autonomia da mulher sobre decisões a respeito de filhos, família e seu papel na sociedade. Para além disso, há também o controle químico, que modifica ou distorce a vontade das viúvas, fazendo-as realizar apenas o que é determinado por Dreykov.
Alguns desses cenários podem ser trazidos para a realidade, como as denúncias de histerectomia (retirada de úteros) forçada a mulheres imigrantes em alguns países. E as relações abusivas entre familiares, dando um foco maior ao se tratar da mulher. Vale salientar, que todos os cenários podem ser incluídos ao âmbito masculino, porém o filme coloca a mulher como fio condutor da trama, levantando questões de significativa importância para o mundo atual.
3 - Abandono familiar e pobreza global
Esses temas geralmente são tratados como dois mundos totalmente diferentes, mas no filme se entrelaçam de um modo arrebatador. Para entender melhor, as meninas levadas ao treinamento de Dreykov são crianças que não possuem qualquer suporte, completamente desamparadas, seja nas ruas ou de famílias pobres que acabam por vendê-las àqueles que pagam por elas. Foi assim que o exército de viúvas foi construído, incluindo Natasha, que segue na trama com as dúvidas afetivas sobre sua mãe biológica. O tema levanta o debate sobre como crianças, por todo o mundo, podem estar vulneráveis. Há um grande número de mães solo, sem apoio educacional ou financeiro, tendo que arcar com todas as responsabilidades que envolvem a criação de um filho, muitas vezes também sem o apoio ou acompanhamento do Estado. E nesse contexto de desamparo estatal, muitas famílias nas ruas e sem condições dignas de sobrevivência, buscam se manter com ajuda de doações e ações civis que nem sempre são bem intencionadas, a exemplo das ofertas de compras de bebês e crianças para todo o tipo de finalidade. Como dito anteriormente, o abandono familiar e pobreza se cruzam no filme, e podem levar a questionamentos reais sobre a sociedade em que vivemos.
Diante de tudo isto, a obra da Marvel vai muito além de uma produção cinematográfica a respeito de super heróis. Com um olhar mais atento, Viúva Negra rompe barreiras e levanta debates sociais muito importantes para a sociedade. Aqui, foi possível analisar um pouco esse paralelo do mundo hollywoodiano e o mundo real, e aprofundar tais questões. É significativo, contudo, informar que o filme aborda essas problemáticas de forma singela, e não foge da expectativa de muita ação, confronto e conflito dramático, elevando a personagem da Viúva Negra a uma história digna de ser contada exclusivamente.